Blog do Professor Márcio

Seja bem vindo. Gosto de compartilhar ideias e sua visita é uma contribuição para isto. Volte sempre!

sexta-feira, 28 de julho de 2017

PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO DA INDÚSTRIA MINERAL

A Secretaria Executiva do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração lançou uma Nota de Repúdio ao Programa de Revitalização da Indústria Mineral do atual Governo. Esta nota foi assinada por grande número de organizações de defesa ambiental e das comunidades vitimadas pelos impactos provocados pela mineração em grande escala.


O lançamento do Programa de Revitalização da Indústria Mineral através de Medidas Provisórias é a marca antidemocrática das ações do Governo Temer.  Mudar o Código da Mineração no momento de turbulência política pela qual passa o país, tratando a mineração apenas sob a ótica fiscal e administrativa, deixa claro que esta manobra faz parte do pacote de ações de desmonte da democracia e que é uma clara tentativa de buscar convencer parlamentares da bancada mineradora a votar contra o prosseguimento da denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) por corrupção passiva.

Tratar a mineração como se fosse apenas um setor comercial capaz de aumentar a participação no PIB, que segundo anúncio subiria de 4 para 6%, aumenta ainda mais a fragilidade de fiscalização do Estado e coloca ainda mais em risco as populações aos redor das minas, as comunidades no entorno de sua logística e o meio ambiente.

A expansão da mineração no Brasil nos últimos 15 anos tem trazido impactos significativos para as comunidades e o meio ambiente. De várias partes de nosso território ressoam denúncias de injustiças socioambientais provocadas pela mineração e sua cadeia produtiva, de transformação, escoamento e exportação. Ao mesmo tempo, os bens minerais brasileiros se esvaem por nossos portos, em uma verdadeira sangria, rumo ao exterior, reforçando o papel primário-exportador de nossa economia.

A política de expansão da extração mineral, da qual a reformulação do novo Código Mineral é um dos elementos centrais, ganhou força desde 2013, com o envio ao Congresso Nacional do Projeto de Lei 5807/2013. As organizações membros do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios frente à Mineração travaram uma luta pela garantia de direitos das populações atingidas, dos trabalhadores e contra os impactos ambientais provocados pelo modelo mineral brasileiro e impediram a votação do texto do Novo Código em dezembro de 2015. Fez parte da ação do Comitê a denúncia à imprensa que o texto do Código havia sido escrito por advogados do escritório Pinheiro Neto, que representa diversas mineradoras como a Vale S.A e a BHP Billiton e que privilegiava exclusivamente o mercado.

No anúncio do presidente realizado no dia 25 de julho do presente ano  foram esquecidas as populações ao redor das minas, as impactadas pela logística de transporte, as comunidades, os povos tradicionais impactados e o meio ambiente. Que sequer foram citadas nos textos das MPs. Infelizmente, essas enormes cifras e cifrões escondem o rastro de destruição que a expansão da mineração vem deixando nos territórios.   Essa política gerou desastres como o ocorrido em novembro de 2015 no distrito de Bento Rodrigues, Mariana (MG), onde 20 pessoas perderam suas vidas e mais de 600 suas casas. Até hoje os atingidos por este desastre, que incluem mais de 20 mil pessoas na Bacia do Doce, não foram indenizados pelas empresas e o Governo Federal não tomou nenhuma providência pela garantia dos seus direitos no anúncio do novo Programa. Pelo contrário. O texto na MP deixa claro que os danos ambientais e sociais provocados pela mineração, assim como o fechamento das minas são de responsabilidade exclusiva das empresas mineradoras. Mas como criar mecanismos para que a fiscalização a essas empresas seja feita de forma efetiva?

Ao transformar o DNPM em Agência Reguladora, a Agência Nacional da Mineração, sem um longo processo de concursos públicos para a ingressão de funcionários qualificados, o governo deixa claro que pouco investimento será destinado à fiscalização. O DNPM é hoje um órgão sucateado. No Estado de Minas Gerais são apenas 4 fiscais para cuidar da fiscalização de mais de 700 barragens.    Criar a Agência sem a garantia de um aumento significativo do corpo de servidores que farão a fiscalização dos empreendimentos não garante um maior controle sobre do Estado sobre o setor da mineração.

Se a questão é fiscal e é necessário aumentar a arrecadação, porque o Governo não revê as leis que isentam a exportação de minérios do pagamento de ICMS, Lei Kandir, ou a Lei de isenção de Imposto de Renda para as empresas que atuam na Amazônia, entre elas todas as grandes mineradoras?

As MPs 789, 790 e 791 anunciadas de forma antidemocrática pelo governo aprofundam uma lógica  de expansão mineral  segundo a qual os ganhos ficam concentrados nas mãos das empresas e os danos são distribuídos aos que vivem nos territórios decorrentes dos impactos ambientais significativos e irreversíveis sobre as águas, o ar, o solo, os ecossistemas,  patrimônios arqueológicos, paleontológicos, culturais e simbólicos

O aumento da CFEM por meio de mudanças na fórmula de cálculo (que passa a ser sobre o faturamento bruto e não mais o líquido) e as novas alíquotas não alterará substancialmente a condição do país de paraíso fiscal para as grandes mineradoras, todas transnacionais. Além disso, não resolverá o grave problema fiscal que hoje enfrentam os estados e a União e não reverterá o crônico desmonte do Estado e das políticas públicas. E a destinação dos recursos da CFEM não é clara em investimentos que realmente sejam de grande valia à população dos municípios dependentes da mineração. Principalmente no tocante à área da saúde, pois nestas localidades o aumento de doenças pulmonares, doenças de pele e os mais diversos tipos de cânceres é significativo. É uma irresponsabilidade promover a dependência econômica dos municípios a atividades minerais intensivas em exploração, que são capazes de em pouco tempo esgotar sua produção ao passo em que deixam como heranças irreversíveis para as atuais e futuras gerações a contaminação e depredação dos territórios, inviabilizando, inclusive, outras atividades econômicas que teriam potencial de serem socialmente justas e ambientalmente sustentáveis.

Repudiamos o Programa de Revitalização da Indústria Mineral como um caminho para a saída da crise. Repudiamos o Programa, acima de tudo, porque ele aprofundará os impactos sobre as populações ao redor dos grandes projetos, as comunidades que sofrem o impacto da sua logística, sobre a água, o solo, o ar e todo meio ambiente, além de ampliar os riscos de desastres. São necessárias mudanças na mineração brasileira, mas para isso é necessária uma ampla e democrática discussão sobre o modelo mineral do nosso país, com a ampla participação de todos os atores envolvidos e os impactados pelo setor.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

POR QUE APOIAMOS O DESENVOLVIMENTO ESTÚPIDO?


Muitas pessoas argumentam que as sociedades devem explorar suas terras e recursos naturais para prosperar.
Mas mesmo que você aceite isso, por que estamos apoiando o “desenvolvimento estúpido” – projetos que destroem e poluem os ecossistemas enquanto apenas perdem dinheiro?
No Bornéu, por exemplo, a pesquisa de Nicola Abrams e seus colegas mostrou que vastas áreas de pântanos costeiros, importantes para o meio ambiente, estão sendo destruídas para plantações de palmeiras de óleo – em áreas de marés onde as palmeiras de óleo morrem rapidamente.
Em uma planície de inundação costeira, já existem cerca de 16 mil hectares de plantações abandonadas.
Os ecossistemas foram destruídos. Dinheiro e trabalho árduo foram desperdiçados.
Mas mesmo o conhecimento mais básico – óbvio a olho nu – teria demonstrado que a terra não era adequada para o óleo de palma.

Bornéu - áreas naturais destruídas para plantação de palma de óleo

Aqui está outra tragédia em construção:
Através das regiões tropicais úmidas da África, Ásia, Oceania e América Latina, milhares de quilômetros de novas estradas estão sendo arrasados ​​todos os dias em florestas remotas cheias de biodiversidade. 
Algumas dessas estradas estão sendo desenvolvidas em rodovias de pavimentação cara. Mas em apenas alguns anos, muitas dessas novas estradas serão praticamente inúteis.

estradas destruídas pelas chuvas

O culpado: chuvas tropicais pesadas, danificam as estradas e arrastam seu pavimento base.
A verdade assustadora é que muitos projetos de desenvolvimento que parecem uma boa ideia são mal concebidos e extremamente arriscados.
Não acredita nisso? Assista a este vídeo de dois minutos e veja como a busca de lucros pode desestabilizar uma nação inteira.
Quando se trata de “desenvolvimento estúpido”, há muito mais acontecendo agora do que qualquer um quer admitir.
Fonte:
ALERT
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/07/2017

terça-feira, 4 de julho de 2017

SAMARCO É IMPEDIDA DE OPERAR EM SANTA BÁRBARA (MG)


A prefeitura de Santa Bárbara decidiu não atender ao pedido da mineradora Samarco e negou a emissão da carta de conformidade, um dos pré-requisitos para o retorno da empresa às atividades. O documento deveria atestar que as estruturas da empresa na cidade estão de acordo com as leis municipais de uso e ocupação do solo. No entanto, na avaliação da prefeitura, elas não respeitam a legislação em vigor.
Em documento assinado na última sexta-feira (30), o secretário do meio ambiente de Santa Bárbara, Juliano Xavier, anunciou a decisão de não emitir a carta de conformidade. Embora não exista efetiva produção da Samarco na cidade, a captação e o bombeamento de água utilizada em operações da mineradora ocorrem em um dos distritos de Santa Bárbara.
De acordo com o secretário, as estruturas da mineradora no distrito são incompatíveis com a legislação municipal “tendo em vista os impactos negativos ao meio ambiente e a ausência de soluções capazes de afastar ou atenuar tais impactos, revelando-se incompatível com o ordenamento territorial relativo à Zona de Recuperação Ambiental da Bacia do Peti”.
Mariana/MG - Moradores atingidos pelo rompimento da barragem do Fundão ainda não sabem quando serão indenizados pela Samarco (Léo Rodrigues/Repórter da Agência Brasil)
O desastre ambiental causado pelo rompimento da barragem do Fundão causou destruição e mortes no Vale do Rio Doce. Foto: Léo Rodrigues/Repórter da Agência Brasil
 
A decisão traz dificuldades para a retomada das operações da mineradora, que está com as atividades paralisadas desde que suas licenças foram suspensas em decorrência da tragédia de Mariana, em novembro de 2015. Na ocasião, uma de suas barragens se rompeu e liberou no ambiente mais de 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos, poluindo a bacia do Rio Doce, devastando vegetação nativa, destruindo comunidades e matando 19 pessoas. O episódio é considerado a maior tragédia ambiental do país.
A carta de conformidade deve ser fornecida pelas prefeituras de cada uma das cidades envolvidas na cadeia de produção e é um dos pré-requisitos para que as licenças ambientais suspensas possam ser liberadas pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad). As prefeituras de Catas Altas, Matipó, Ouro Preto e Mariana já haviam entregue o documento, sendo que o único pendente era o de Santa Bárbara.
A prefeitura divulgou em sua página oficial um texto alegando que a decisão foi embasada em um relatório de mais de 100 páginas e que a avaliação foi feita ao longo de quatro meses, levando em conta “análises técnicas dos estudos apresentados pela Samarco, entre os quais estudos de depuração do rio, nos cenários com e sem captação de água”.
Em nota, a Samarco informou que apenas hoje (3) tomou conhecimento da decisão do município. “No momento, a empresa está analisando a decisão e as medidas a serem adotadas a partir de agora”, acrescenta o texto.
Histórico
O impasse em torno da carta de conformidade de Santa Bárbara se arrasta há mais de seis meses. Para emitir o documento, o município cobrava da mineradora a entrega de estudos ambientais sobre mudanças na vazão e no curso d’água do Rio Conceição, onde ocorre a captação. Segundo a prefeitura, a retomada das atividades poderia provocar impactos ambientais, exigindo ações de mitigação. Uma das possibilidades que chegou a ser cogitada pelas partes como medida mitigadora foi um projeto voltado para o tratamento do esgoto.
Em fevereiro, porém, a Samarco ajuizou uma ação no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e obteve uma liminar dando prazo para que a prefeitura emitisse o documento. A mineradora alegava que a tragédia de novembro de 2015 não causou nenhum impacto nas estruturas em Santa Bárbara. Por esta razão, não haveria motivos para que o município recusasse a entrega de uma nova carta de conformidade similar à que estava em vigor desde 2009 e que somente foi suspensa devido ao rompimento da barragem de Fundão.
Para convencer o desembargador Raimundo Messias Dias, a defesa da mineradora também argumentou que a avaliação dos impactos ambientais é de responsabilidade do governo estadual, cabendo à prefeitura tão somente avaliar a conformidade em relação à sua legislação de uso e ocupação do solo. O magistrado deu um prazo de dez dias para que Santa Bárbara emitisse um parecer sobre a conformidade das estruturas.
No entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a decisão. “Tem-se por certo que a expedição de declaração de conformidade sem a devida análise e conclusão sobre os impactos e as consequências que o empreendimento da interessada pode causar importa, de imediato, expor toda a coletividade do município requerente a situação de risco”, registra despacho assinado pela ministra Cármen Lúcia.
O impasse com a prefeitura de Santa Bárbara atrasou o processo de retomada das operações da mineradora. No fim do ano passado, a Samarco informou que tinha a expectativa de reiniciar suas atividades no segundo semestre desse ano. Com os contratempos, a mineradora passou a ser mais cautelosa e agora não estipula uma data para o retorno. Diante da falta de previsão, teve início no mês passado mais um período de layoff, com a suspensão do contrato de trabalho de aproximadamente 800 funcionários.
Mesmo antes do anúncio da prefeitura de Santa Bárbara, prefeitos de municípios diretamente dependentes da geração econômica da Samarco reclamaram da demora para expedição da carta de conformidade. O descontentamento foi exposto pelos prefeitos de Mariana (MG), Duarte Júnior, e de Anchieta (ES), Fabricio Petri (PMDB). Ambos lamentaram o comportamento da prefeitura de Santa Bárbara durante uma audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Por Léo Rodrigues, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/07/2017